• 20.09.2011

antes de Um estudo para uma consistência. 2005/2011

O vídeo foi realizado em 2005 como um documento de uma acção que lhe sucedeu, mas o
autor decide não mostrar a acção no objecto em exposição. No vídeo observamos as
páginas de um diário e sabemos que foi abandonado num banco de jardim. No objecto
expositivo duas cadeiras que comunicam entre si; numa o projector, noutra a superfície a
projectar, remetendo para um diálogo entre o diário e o seu autor, ou um diálogo entre
aquele a quem pertence o diário e um outro que talvez, desejavelmente, gostaríamos que o
possuísse. Mas provavelmente também dialoga com o observador que olha o objecto agora
na exposição, porque este lhe abre as páginas com gestos que revelam intimidade sem
sabermos o porquê do seu abandono e nem o que realmente lhe aconteceu. O que
sabemos é que o seu autor deseja lembrar, e lembrar-nos do objecto, o que ele contém, e a
forma ultima de se relacionar com ele. Qualquer diário possui desenhos e escritos, sentires
e intenções que conduzem a gestos futuros. Os diários contém espaços de premonição que
nos antecipam acontecimentos, antevêem decisões.
O vídeo é um documento e memoriza um momento de despedida que o seu autor
entendeu registar para lembrar o momento em que o abandono ainda não tinha
acontecido. Neste sentido este documento anuncia a escolha da perda de um objecto
pessoal. Regista e mostra, o que Richard Schechner identi!ca como pretexto ou protoperformance
¹, o que está antes da Performance² e que normalmente os artistas escondem
como uma estratégia de não revelar elementos que pensa a performance como, desenhos,
textos, pinturas, colocando-se em vantagem perante o observador pois possuem
informações muitas vezes reveladoras para a compreensão da performance. Aqui, se há
estratégia, é exactamente mostrar a intenção por trás da acção de perder o objecto,
direcionando o trabalho para o conceito de pré-texto² que Ernesto de Sousa identi!ca, e
que está presente no texto Oralidade, o Futuro da Arte?, como forma de lembrar a
procura da razão profunda,³ da perda do diário.
¹ proto-performance is what precedes and/or give rise to a performance. Richard Schechner in Performance
Studies. An introduction. Routledge, 2006:225
² Performance Autobiográ!ca é o estudo que investigamos e aqui pretendemos re$ectir sobre a pertinência do
conceito de pretexto em Richard Schecher (Performance Studies) e Ernesto de Sousa, autor proposto pela
Disciplina de PEAII.
³ Ernesto de Sousa em entrevista à RTP, 1982, coincidente com Pré Texto II, instalação de fotogra!as, textos e
objecto (um avental manchado de tintas), Lisboa e Coimbra.
⁴ Ernesto de Sousa, Pre texto: pretexto e pré-texto (Fragmentos), in SEMA, Maio 1982 acesso em http://
www.ernestodesousa.com/?p=164

 

Teresa Luzio