• 02.03.2011

Instalação tipográfica

© Pedro Serapicos

A materialidade da letra e a insistência na visualidade questionam, suprimem até, a distância entre a palavra e a imagem. Tal como a memoria das oficinas vazias e máquinas antigas — que evocam o passado no presente — também o desenho da letra encerra um imaginário de tempo.

O tipo funda uma razão ocidental e transforma-nos num ser que deriva o pensamento da escrita como uma espécie de mimese das ideias que vivem, também, no carácter das letras. Uma escrita de sinais e formas que se desco- brem como excessos de materialidade e recusam a consideração metafísica.1

Encontramos um âmbito de expressão além da racionalidade tipográfica, algures entre a extremidade da letra, a representação, a técnica e a matéria. Significados da reprodução mecânica que denunciam o vínculo do tempo histórico em novos contextos estéticos ou significados que convertem a letra em imagem.

O uso tipográfico, a escrita visualizada, sublinha a materialidade do pensamento e exibe uma zona experimental que já não é palavra mas antes um excesso formal: o poema da forma tipográfica.

O diálogo entre o espaço, o tempo e a memória inspira um exercício que experimenta o valor semântico da letra. Impregnado de silêncios e intuições este projecto propõe um olhar sobre o valor formal do tipo, deslocado, como elemento pictórico capaz de traduzir ideias ou derivações de um conceito temporal. Frutiger sublinha, com frequência, a proximidade entre tipografia e arquitectura. Uma espécie de cosmogonia da relação entre espaços que também aqui procuramos representar.

  1. Sobre Jacques Derrida, in La Dissémination, 1972, Seuil.