• 22.09.2011

Um silêncio cheio do que eu não disse

Esta proposta de trabalho foi desenvolvida a partir de uma reflexão provocada pela indicação da leitura de Oralidade, futuro da arte? (1968), de Ernesto de Sousa, na disciplina de Práticas e Estudos Avançados II. No texto, o autor convoca-nos a um retorno à oralidade, onde a obra de arte seria “a palavra que busca romper o silêncio entre mim e outrem”. Fala-nos sobre a “redescoberta do silêncio original e do seu rompimento como o verdadeiro motor da expressão”.

Tal reflexão despertou o interesse em investigar a possibilidade do rompimento do silêncio pelo próprio silêncio. Partiu-se então para a procura de uma voz muda, mas que fosse capaz de conter o desejo de rompimento dessa condição como motor da expressão. Chegou-se assim à imagem do silêncio como potência, consolidada como mote do trabalho apresentado nesta exposição a partir da leitura de A paixão segundo G.H. (1964), da escritora Clarice Lispector. O romance aborda a presença da falha na construção da linguagem, mas não necessariamente como um indicativo de insuficiência:

“A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas – volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.”

Para Clarice, voltar com as mãos vazias após uma busca pode significar chegar mais longe, ir mais além – e retornar da tentativa com o indizível. O trabalho em vídeo desenvolvido para esta exposição procura falar de um silêncio que se anuncia em potência, mesmo que seja “mudo”: Um  silêncio cheio do que eu não disse. No vídeo, acompanhamos a breve ficção em torno de uma mulher que perde sua voz e passa a deslocar-se frequentemente a uma colina com antenas de transmissão de TV e rádio, no anseio de tentar se comunicar com o mundo. Movida pela pulsão da fala, sente-se atraída intuitivamente pelas antenas e vai até elas para “gritar”. Tudo indica que suas tentativas falham.

Um silêncio que não foi rompido segue a conter o desejo.

Fabiana Wielewicki

Setembro de 2011