• 20.09.2011

o doloroso é começar

O performer leva na sua mochila, misturados com seus livros, canetas e cadernos,  15 rolos de fita crepe para pintura. Um para cada trabalho do museu.

Durante a abertura, posta-se em frente aos trabalhos expostos, um de cada vez, apanha um desses rolos e lentamente enfaixa a cabeça. Tapa olhos, ouvidos, nariz, boca, até ter todo o rosto coberto. Depois, retira a fita, que repuxa-arranca-depila parte dos pelos de seu rosto, amontoa seus pedaços e coloca o rolo retorcido e gasto no sítio onde realizou a ação, como que a marcar que aquele lugar de observação para o trabalho exposto já fora usado.

Dor, repetição, acaso e turvação dos sentidos.

A busca pela obrigação do silêncio. A barreira física que tapa não só boca e mandíbula, dificultando o falar, mas também olhos, nariz e ouvidos, afeta diretamente a maneira como o performer é sensibilizado pelos trabalhos expostos e a sua relação com as pessoas que estão no museu.

Uma busca pela dilatação daquele instante muito curto, feito de silêncio e que precede a fala primeva. De um falar que existe sem as palavras e que, na performance, procura ser alcançado pelo sofrimento físico – do repetir a dor, do aprender a técnica, do erro/acerto… e psicológico – da dúvida, da decisão por um caminho em detrimento de todos os outros… Metáforas para a ação do artista na realização do seu trabalho.

Depois da abertura, juntam-se aos trabalhos expostos no museu os restos dos rolos de fita e um vídeo com o registo da ação.

João Vilnei

Set. 2011