• 21.09.2011

{vã_guarda} ou os paradoxos de Santo Agostinho

[memória para um projecto]

O pensamento Moderno é marcado por uma existência não modelar, marcada por arquétipos e suposições de originalidade, de um novum contínuo, em oposição à regra da imitação.

Dentro deste contexto convocamos a memória e a reflexão que Ernesto de Sousa (1921-88) realizou sobre o devir da Vanguarda em Portugal, do sentir Ser moderno em Portugal. Quais os limites da modernidade e o alcance das práticas estéticas no país: conceitos, contradições, instituições legitimadoras.

ES questiona uma banalidade artística instalada em Portugal, de uma progressiva imitação não confessada, a viver de “sombras e vergonhas” e no sentido dos seus objectivos utilitaristas. Se a aceleração das vanguardas é necessária, tal deve passar por um recomeço e uma reformulação sagrada “a estar-no-estar, a ser-no-ser”, e não numa “pretensa procura da originalidade” que marca a modernidade. Paradigmático de procura e coerência de soluções de vanguarda, ES apresenta a ideia de vanguarda como a ruptura necessária, imprescindível a um novo entendimento de espaço: “A descoberta de um espaço moderno inscreve-se num discurso histórico rigoroso: o aprofundamento da dialéctica, contradição e continuidade, entre espaço interno e espaço externo (…)”. No entanto, ES assume que vanguarda evoca o “prá-frentismo” dessa inquietação moderna, mas que a existência de uma vanguarda implica sempre a existência de uma retaguarda: a importância da existência de uma memória, de um passado… Promover uma atitude renovadora da criatividade, da ideia de Vanguarda que permitisse noções de experimentalismo, de interdisciplinaridade, sublinhando a arte enquanto ideia, acção, de aproximação entre a arte e a vida.

A ideia de resistir (ao fascismo e a um totalitarismo) por si só não transformou ou originou a criação de uma “verdadeira” criatividade e existência estética. A politização extrema do país (antes e pós revolução) levou que um país passasse da “sombra” à “luz”, mas continuasse a viver numa série de opacidades, sem questionar as causas mais profundas. A resistência tornou-se uma “sobrevida” como verdadeira forma de resistência ao fascismo. Tal passaria pela resistência ao fascínio pelo Outro. Pois, continuar a imitar o outro (do estrangeiro) estava-se condenado a uma “bolorenta reserva conservadora”. Comprometidos com o estado das coisas: museus, bienais, críticos sentenciosos…agravado pela incomunicabilidade geral, vive-se “uma ignorância arrogante”.

Urge, assim, ontem como agora, a necessidade de criar núcleos de experimentação, documentação e estudo!

José Dias

Set. 2011